
A Editora 85 tem sido uma das responsáveis para a alegria dos amantes dos fumettis italianos, após duas campanhas de sucesso através do Catarse para o lançamento dos títulos Dampyr e Diabolik, dessa vez optaram por resgatar um dos personagens mais simpáticos e humanos da Sergio Bonelli Editore, o piloto aventureiro Mister No.
O plano da editora seria lançar a série mensal, mas como os direitos já foram vendidos para outra editora brasileira, a SBE indicou a série Speciale que conta com mais de vinte volumes e traz ótimas histórias, como essa edição de estréia intitulada Magia Negra, onde o Mister No se vê as voltas com os cultos afro brasileiros no estado da Bahia.
A aventura tem início em uma sessão espírita, lugar para onde Mister No tinha conduzido um de seus clientes, após outro membro da sessão, o prof. Polanski descobrir a fraude da cerimônia, decide dias depois contratar o piloto amazônico para que o guie através dos terreiros onde ocorrem as manifestações das religiões afro brasileiras para que ele possa acompanhar de perto os ritos que flertam com o sobrenatural e tirar suas conclusões sobre os mesmos. Mister No decide fazer o tour contanto que não se envolvam com o pessoal da quimbanda, devido o teor mais pesado da religião. Logo as confusões começam no primeiro terreiro de catimbó, onde o professor sai desmacarando o líder da seita religiosa e o que se segue é um quebra pau entre os dois e os seguidores da seita, o que resulta na prisão dos dois aventureiros. Albert Polanski logo é liberado devido a influência do consulado americano, enquanto Mister No fica mofando umas duas semanas no xadrez, quando o consulado decide liberá-lo é para que o mesmo procure o professor que sumiu com a ideia de se meter com o pessoal da quimbanda e é aí que o caldo engrossa de vez.
Com uma trama bem construída e um final tenso e desesperador em um cemitério bahiano (apesar da solução meio deus ex machina, mas que ao mesmo tempo mostra o quanto o personagem tem uma pegada mais humana), Magia Negra é uma declaração de amor do Sergio Bonelli pelos temas que fogem do clichezão do que é vendido para os gringos sobre a cultura do país, o tema das religiões afro é tratado de forma bem respeitosa pelo autor onde mesmo o Mister No com todo seu ceticismo entende a alma do povo brasileiro e em vez de debochar dos cultos até se enturma com o pessoal, pois cada um que acredite no que quiser. O Bonelli tem o mérito de captar a brasileiridade e isso graças a suas viagens pelo país, evitando os lugares óbvios e se metendo com culturas, povos ou ritos onde nem mesmo agente jamais conseguirá chegar.
A edição da 85 está impecável e eu já estou contando os dias para o vol. 2 previsto para dezembro.

Livreto que acompanha a edição original italiana
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