Angola Janga conta a história do período colonial onde negros fugidos da senzala montavam os quilombos e os inumeros conflitos que se sucediam a mando do poder para recapturarem ou simplesmente darem um fim nesses negros já que a ideia de uma sociedade de resistência contra o poderio das oligarquias no séc. XVI era algo inconcebível.
O autor D'Salete que já tinha brilhado em Cumbe consegue entregar essa que provavelmente será lembrada como A obra do cara, o meticuloso cuidado para apresentar os personagens ou o contexto histórico é algo espantoso, resultado de uma década de pesquisas a respeito do tema, com direito a viagens do mesmo para o cenário dos conflitos no nordeste brasileiro.
A trama foca principalmente no personagem secundário da historiografia sobre Palmares, Zumbi está lá com seu senso de liderança mas o foco é mais no ex escravo Soares que virá a trair o Zumbi futuramente, só que os personagens são tão bem montados que em nenhum momento a traição faz com que você desdenhe do Soares.
O gibi é uma aula de narrativa e vai num crescente até chegar no apoteótico final, com clima cinematográfico e uma série de simbologias muito bem apresentadas, percebesse que tudo foi meticulosamente calculado como em um jogo de xadrez, temos os bandeirantes, a igreja, o governo... todos envolvidos nesse complexo jogo. São inúmeros personagens que se destavam, a maioria históricos, como o próprio Soares, Zumbi, Furtado, Rodrigues, Domingos e a sensacional Andala que brilha demais no final da obra.
Também merece destaque a arte do D'Salete, com um traço rústico e personalíssimo sem fugir da escola clássica, cada quadro é um deleite e faz com que a ambientação seja perfeita. São mais de 400 páginas sem a arte oscilar em nenhum momento.
O livro apresenta textos complementares e um glossário riquíssimo, vale a pena ter essa obra na coleção, um dos melhores trabalhos já lançados por um artista nacional e que com certeza renderá bons frutos.

Já chegou em France.
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