
Para um homem cínico e entediado como John, existe apenas um tipo de tormento para o qual ele não está preparado: o sossego.
Mas o fato é que, desde que separou uma parte da sua alma e a condenou ao inferno para sofrer pelos pecados que cometeu, as coisas vão muito bem, obrigado. John agora tem uma namorada que ainda não matou ou enlouqueceu, seus amigos sobreviventes estão – ao que tudo indica – bem e saudáveis, e os inimigos, pelo menos a maioria, estão ou mortos ou condenados a algum tormento eterno. As coisas já estiveram muito piores.
Claro que isso também quer dizer que ainda resta tempo de tudo pegar fogo. Pois, quando alguém é tão bom em fazer inimigos como John, sempre existem aqueles que ainda espreitam nas sombras, e um ou dois pesos pesados que podem se dar ao luxo de esperar o melhor momento para se vingar. E o que acontece quando esses dois tipos de inimigos se encontram? O melhor a fazer nesses casos é correr para bem longe, pois o dano provocado promete ser tanto mortífero quanto generalizado.
O sétimo volume de John Constantine, Hellblazer Demoníaco conclui a fase de PAUL JENKINS (Spectacular Spider-Man) nos roteiros de Constantine, com arte de WARREN PLEECE (OS INVISÍVEIS).
Hellblazer 121 a 128
Março/2018
Encadernado
17 x 26 cm
196 páginas
Papel LWC
Capa Cartão
Lombada Quadrada
No geral, achei o arco mediano. O início é legal, com Constantine saindo de seu habitat (Londres), interagindo com a família de Dani e tentando se enturmar. Sempre me divirto com o modo como o personagem (acostumado a lidar com possessões, anjos, demônios e afins) se sente deslocado e perdido diante de situações corriqueiras, como (no caso em questão) a convivência com a família da namorada.
Depois disso, o roteiro dá algumas voltas e se perde um pouco. Achei toda aquela história do “quiz”, do “isso” e das frases publicitárias bastante confusas. Sinceramente, não consegui entender direito qual a relação entre esses elementos e a tal “doença psíquica”, que está afligindo a população americana e afetando o comportamento dos familiares de Dani. No final, John usa de seus famosos truques (que inclui arriscar a vida de algum amigo) para livrar a família de Dani. Não deixa de ser interessante que ele resolva o problema apenas no núcleo familiar da namorada, e volte logo para Londres, deixando o restante dos EUA se foder com a “doença psíquica”. Esse tipo de atitude nobre e canalha ao mesmo tempo é a cara do personagem, que, afinal, não é nenhum super-herói, para salvar o mundo.
Como se tornou comum em momentos marcantes da carreira do mago, o Primeiro dos Caídos faz aparições pontuais ao longo do arco. As interações com Constantine são boas, mas o personagem meio que virou um “arroz de festa” na série do mago.
Como Brincar com Fogo: O segundo – e derradeiro – arco é o típico final de temporada, dedicado a fechar pontas e resgatar ideias plantadas nas histórias anteriores.
Esse clima de final de temporada torna o arco burocrático e sem grandes emoções. De início, a vingança de Gavin Pomeroy (que culpa Constantine pela morte de sua mulher) parece promissora. Na medida em que o arco avança, entretanto, essa vingança se torna apenas o instrumento para Jenkins “limpar a casa” e afastar coadjuvantes que tiveram destaque em seu run, como Jack, Rich e Dani. Em contrapartida, o autor deixa alguns plots em aberto, para serem resolvidos por seus sucessores.
A arte de Warren Pleece é bem fraca. Até que seu trabalho no volume anterior não me incomodou, provavelmente porque ele desenhou apenas uma história. Mas aqui, com todo o encadernado a seus cuidados, a coisa muda de figura.
E é isso. Mais uma fase de Hellblazer publicada na íntegra no Brasil. No geral, o run de Paul Jenkins teve altos e baixos, e acho que o autor se saiu melhor nas histórias curtas que nos arcos longos e grandiloquentes. Mas penso que a viagem valeu a pena.
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