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[AVALIACAO] - Prof Fall - Ed. VENETA

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    Marcas:Ivan Brun Tristan Perreton PROF. FALL

    GRAPHIC NOVEL, HISTÓRIA EM QUADRINHOS, QUADRINHOS INTERNACIONAIS
    Nesta adaptação do romance homônimo de Tristan Perreton, o quadrinista Ivan Brun mistura suspense com crítica social e fantasia. Depois de presenciar o suicídio de um ex-mercenário, que barbarizara na África, Michel entra em uma espiral de delírios e violência, induzida por um coquetel de antidepressivos e um misterioso feitiço hipnótico que o fazem revisitar diversas cenas da vida do mercenário suicida e deparar-se com um mundo de armas, drogas e guerra civil na África pós-colonial.


    Prof. Fall

    Tem alguns elementos simples pra você se animar a ler Prof. Fall. Pode ser porque a capa é dura, o papel é grosso e a encadernação é bonita, se seu negócio é colecionar por si só. Ou porque o autor tem indicações ao Angloume no seu currículo. Enfim, motivos superficiais que são tão comuns como chamariz hoje em dia, não faltam. Você pode também ler só pq é da Veneta, que é uma editora que sempre te assegura no mínimo, um respiro de novidade.

    Mas Prof. Fall tem muito mais que isso. A arte pra começar é absolutamente pouco usual, com colorização que casa perfeitamente com o tom de depressão entre delírio e realidade da história. Há escolhas de enquadramentos pra narrar a história muito inteligentes e pouco usuais, e o começo do livro, com representações e elaborações sobre o espaço público e arquitetura moderna, como um modo de localizar o personagem, as angústias e as dores deles é espetacular. É ver em quadrinho algumas coisas que você pode ler em autores como Berman por exemplo.

    A fascinação do personagem com o suicídio, logo no começo, pra mim é um dos momentos mais marcantes, a composição entre texto e imagem é brilhante.

    Uma das coisas que mais gosto em Prof. Fall é a abordagem do mal estar, o tão falado mal estar da modernidade, ou da pós modernidade como alguns querem, essa melancolia tão explorada em algumas propostas literárias e musicais, mas que por muitas vezes fica apenas relegada a um cinismo meio tolo de um revoltado meio preguiçoso, esse caldo meio lodoso da covardia que gera umas imbecilidades na atualidade. Mas aqui essa abordagem de fato serve a história, e é calcada na realidade, numa história real, violenta e agressiva de um contexto do qual pouco se fala, de guerras com as quais poucos se importam.

    Por mais que a premissa do livro seja em primeira pessoa, que as aspirações depressivas e delírios do personagem sejam o que conduz a história, a coisa não fica autocentrada numa elaboração egóica meio simplista, tão comum a alguns quadrinhos havidos por "inteligentes e profundos" hoje em dia.

    A história tem como pano de fundo questões coloniais, um tema que precisa cada vez mais ser estudado dentro das premissas do decolonialismo/colonialismo e como isso constrói a nossa visão de mundo. Há representações politicas interessantes também, como na relação do personagem com sua tia, a sua apatia, sua falta de participação. Paralelos absolutamente relevantes do mundo de hoje.

    Algumas passagens são sensacionais do ponto de vista especificamente literário, tem qualidade real de escrita aqui.

    Eu lembrei de J.G. Ballard e coisas de Camus, não são referências diretas, nem sei se pretendidas. Mas pra mim denota bem como algumas passagens da obra conseguem ir longe.

    Eu não tenho lido tanto gibi em 2020, mas isso aqui certamente vai ficar entre as 5 melhores coisas que eu li esse ano.

    E acho que vale a pena falar da Veneta também. Nesses tempos em que se criou esse contato tão aproximado de editora-leitor, quase numa imediaticidade, algo que se tornou parte do modelo de negócios, várias editoras se viram na necessidade de expor opiniões, assumir uma determinada postara frente o leitor e posicionar a editora "socialmente". Algumas editoras o fazem, contando com várias críticas por ai.

    Mas a meu ver quem melhor o faz é a Veneta, pois o faz em boa medida com suas escolhas editoriais, de seus quadrinhos a seus livros. E quando opina, demonstra substância e dialoga mais com o assunto do que necessariamente com o seu consumidor.

    Ah, e o texto do Rogério de Campos sobre o quadrinho no blog da Veneta é muito bom e traz outras referências pra quem se interessar nos assuntos que atravessam o gibi.


    Por Rogério de Campos* “Inclassificável” é uma palavra muito frequente em meio aos tantos elogios da crítica para Prof. Fall, criado pelo quadrinista Ivan Brun a partir do
    Let´s put a smile on that face!!!

  • #2

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