
SKREEMER
“O embrulharam em lençol bem aprumado
E na cama estenderam o corpo inteiro
Aos pés, um galão de uísque destilado
E um barril de porter largado ao travesseiro!”
Assim dizem as palavras da celebrada Finnegan’s Wake, uma canção de um tempo melhor. De uma época em que o mundo não era dividido entre criminosos e suas vítimas. Uma época quando as gangues e os assassinos denominados skreemers não mandavam nas ruas com armas e morte. Veto é o maior skreemer de todos, tanto que tomou o nome Skreemer apenas para si. Ele subiu do ponto mais baixo ao mais alto em um submundo dominado pela cultura de força e poder, e sua vontade é inexorável. Mas o mundo segue girando, e a era das gangues chegou ao fim. Uma nova ordem surge e todos se conformam. Todos menos Veto Skreemer.
A história sombria e pós-apocalítpica de SKREEMER narra a ascensão de um garoto que passa de assassino brutal a um dos mais perigosos gângsteres do mundo. Quando PETER MILLIGAN e STEVE DILLON sentaram-se para assistir a Era uma Vez na América, eles seguramente não tinham a menor ideia de que o filme seria a semente que daria origem a um clássico dos quadrinhos. Podemos até dizer que SKREEMER foi uma das sementes do selo Vertigo. Ao lado de BRETT EWINS, a obra abriu as portas para um novo mundo. Um mundo de histórias mais sombrias, mais violentas, mais adultas, e mais necessárias. Pois as histórias muitas vezes são um reflexo do que o mundo pode vir a se tornar, e um aviso para evitarmos que ele tome esse caminho. Então leia a história de Veto Skreemer. E esteja avisado. Tradução: Érico Assis.
Histórias originais: Skreemer 1 a 6
Detalhes da edição
Julho/2017
Encadernado
17 x 26 cm
156 páginas
Papel Couché
Capa Dura
Lombada Quadrada
R$ 59,90
Desde as primeiras páginas, Milligan imprime um tom solene e épico - é uma história sobre Veto Skreemer, mas ao mesmo tempo é sobre mais, é sobre aquele mundo ao redor dele. Não é surpresa então como a vida de Veto é contada lado a lado da trajetória do Charlie Finnegan. Ao longo das décadas acompanhamos o desenrolar dos anos naqueles dois personagens: o primeiro, quase que fantástico em sua natureza implacável. E o segundo, a epítome do homem comum. E a vida dos dois se entrelaçam o tempo todo, com eles sabendo ou não.
É um gibi tenso, repleto de gravitas. Contado com idas e vindas cronológicas, é conduzido por um narrador do futuro, o qual não vemos nem sabemos dele - mas aos poucos testemunhamos o quanto aqueles evento relatados o moldaram. E dá para dizer que o ponto central da trama, que seria o "presente", sintetiza muito bem em uma imagem a proposta de Skreemer: Veto parado em frente ao abismo, esperando e esperando e esperando. Milligan faz dessa espera quase um anticlímax constante, um pé no freio que impossibilita qualquer catarse, seja do leitor, seja daqueles personagens, em seus questionamentos acerca de livre arbítrio e seus lugares naquele mundo decadente.
A arte fica por conta dos falecidos Brett Ewins e Steve Dillon e eles fazem um belíssimo trabalho. Skreemer é composto de seis edições, cada uma com 27 páginas, mas em nenhum momento a qualidade da arte cai. É um traço limpo, bonito e constante. Fora que eles entregam várias imagens marcantes: a já citada do Veto em frente ao abismo, a sua pose de cafetão implacável (quase sobrenatural) ao invadir a destilaria ou mesmo o momento em que Charlie Finnegan descobre a igreja em ruínas, com a imagem de Cristo imponente.
A edição da Panini está bem cuidada e traz como extras as capas originais, uma introdução em duas páginas do Brett Ewins e a íntegra da canção Finnegan's Wake, além de uma tradução livre de sua letra ao lado.
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