

Que tal ao invés de histórias do Soldado Invernal envolvendo controle mental, podres do passado, remanescências da guerra fria, espionagem e que tais; tudo isso fosse posto de lado e inserissem o personagem num contexto de Policial Espacial em viagens loucas pelo universo

Bom, vamo lá dar uma chance. Ao menos é bem diferente do esperado (curioso que a primeira capa da panini em nada se conecta o conteúdo interno, fazendo mais referência à fase do Brubaker e Epting)
O plot à primeira vista é simples. Temos o Bucky herdando do Fury o cargo de Policial Intergalático, em parceria com a Daisy Tremor (aqui meio Ripley), com uma missão de matar a princesa de um planeta alien que teoricamente poderia ser ameaça à Terra. Nisso, o Soldado acaba se apaixonando pela moça extraterrestre que deveria assassinar, surge um Bucky velho de 200 anos de um futuro que ainda não aconteceu de uma dimensão paralela que ainda não existe, aparece um Ossos Cruzados mais poderoso que o normal. E tudo isso é uma grande maquinação do Loki em perigosos jogos da zuera.
No mínimo instigante, um gibi marvel de aventura em sua melhor forma, não?
Pois bem, agora pega essa descrição.... e derreeeeeeeeeeeeeeeeeeteeeeeeee.....

...

É isso que o artista Marco Rudy faz em suas belíssimas pinturas, diagramadas sempre (SEMPRE) do jeito mais louco e experimental possível. Sente essas páginas:


a mão da punheta chegou a tremer literalmente
É disso aí pra cima.
Por vezes a ordem dos quadros sequer segue a lógica ocidental de leitura (e nem oriental, é tudo sobreposto mesmo), necessitando dos balões de diálogos pra levar o olho do leitor. E é FODA


Xo postar algumas outras, já que busquei no google, a título de apreciação:
Spoiler!

Ler um gibi inteiro nessa pegada é uma experiência cabulosa.

(às vezes cansativa, é bom ler a prestação)
O roteiro de Ales Kot acompanha a pegada lisérgica da coisa! Dentro desse plot comercial descrito, se esbalda escrevendo de um jeito não-convencional complexo. Com muito conteúdo e até profundidade literária.
O autor claramente é sofisticado: aborda filosofia, sociologia, física do espaço tempo. Antenado com a modernidade, interpreta que tudo é fluido, da sociedade ao amor, e o próprio universo (palavras explícitas) tendo como suporte a arte igualmente fluida do Rudy chapado.
No pacote, explora questões existenciais na jornada dos personagens, com críticas cabíveis dos aliens ao idiossincrático comportamento humano:

Bucky não sabe o que quer da vida. Ninguém sabe. Mas precisa saber? Não basta viver? Reflitam
Tem até momentos de metalinguagem, em que os personagens questionam esse ciclo sem fim de violência onde estão inseridos, enfrentando repetidamente os mesmos vilões em aventuras bizarras fadadas ao infinito, como se fossem bonecos nas mãos de crianças sádicas brincando

A motivação do Ossos Cruzados é ótima:

Percebe que nunca foi protagonista da própria vida, sempre esteve lá pra ser vilão coadjuvante de Capitão, do Bucky; portanto quer ficar livre deles pra poder seguir por si mesmo.
Pra justificar o derretimento da coisa toda, o argumento tem como MacGuffin essa droga alienígena que se origina no planeta da princesa extraterrestre:

E aí tem momentos que não dá pra saber se aconteceram, ou se os personagens só tavam muito loucos


páginas que tinham que estar emolduradas
Bons gibis. Bem alternativo, que é o que o leitor com bagagem mais precisa. No mínimo vale pela arte em papel gostoso, um probatório da mídia "quadrinhos ao vivo", que tanto aprecio.
Nesse estilo de escrita verborrágico e poético; acabam rolando variações na qualidade. Vai do interessante/profundo ao pretensioso/enfadonho. Uma leitura pesada, vários momentos tem que voltar e reler pra entender. Chegando até umas caixas de história que nem o próprio autor entendeu o que escreveu:

Lembra um jovem morrison de 1990. Um Alan Moore sem tanta certeza do que ta fazendo
A crítica à arte deslumbrante é que o cara às vezes fica ininteligível, não dá pra saber se em alguns quadros mais claustrofóbicos é um punho cerrado, um olho fechado ou um cu apertado:
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Aos que não compraram, comprem. É tão cabuloso que nem os scanzeiros conseguiram ler em inglês
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