Há uns 3 anos atrás, em 2005, eu postei no fórum Panini uma série de matérias sobre a Liga da Justiça, intitulada "Histórias da LJA que você nunca ouviu falar". Fiz uma pesquisa supimpa em vários sites e li dezenas de scans para tanto. Mas depois de tantos resets nos fóruns da vida e de um arquivo corrompido do Word, acabei perdendo a minha matéria original. 
Já dava como perdido o negócio, quando o nosso amigo MARCELO TRISTÃO mandou um e-mail para uma lista DC da qual participo procurando o autor para poder citar no seu blog. Depois que me identifiquei, o amigo me mandou a matéria todinha, que ele havia salvo antes dos resets. Ele vai postar alguns desses materiais no BLOG dele, então prestigiem a matéria deste que vos fala e o nosso amigo Tristão. O blog dele sobre a DC é dos melhores do Brasil.
Então vamos logo aos fatos sobre a principal equipe de heróis dos quadrinhos, a LIGA DA JUSTIÇA:

[Superman e Batman] "Na capa da revista não, que é pra não estragar o velório!"

Em 1959 Julius Schwartz lembrou-se do sucesso da SJA fazia 20 anos antes e pensou: "Se funcionou uma vez, vai funcionar de novo!". Propôs à DC a criação de uma revista que reunisse o principais heróis da editora. A aceitação do presidente foi imediata. Os problemas viriam com os editores dos dois grandes da DC, Superman (Mort Weisinger) e Batman (Jack Schiff).
Na negociação com Schwartz, os editores só liberariam seus personagens para a revista da Liga se os dois não aparecessem nas capas e tivessem participações pequenas nas histórias. Schiff e Weisinger tinham medo dos efeitos destrutivos da super-exposição dos personagens (coisa que os atuais editores esqueceram, infelizmente).
Um dia o presidente da DC foi perguntar para Julius Schwartz, editor da revista da Liga, porque cargas d'água os dois medalhões da editora não apareciam nas capas de JLA, e se isso não seria bom para aumentar as vendas. Ele contou o acordo que fez com os dois editores, e se assustou com a ira que foi consumindo o rosto do chefão. "Que palhaçada é essa? Eu sou o presidente da DC, não eles!". Depois do acesso de raiva, o presidente fez com que Superman e Batman figurassem nas capas pra ajudar nas vendas.
Resultado: as vendas quadruplicaram, e Julius Schwartz se consagrou como o criador da Era de Prata.
[Flash] O primeiro matador da Era de Prata (e o primeiro pegador também)

No fim dos anos 70, as editoras de quadrinhos americanas perceberam que o público original da Era de Prata crescera e queria materiais mais realistas e adultos. O McCarthismo já diminuíra, e formadores de opinião nos meios de comunicação estimulavam a discussão sobre drogas, sexo, divórcio e outros tabus da época.
A Marvel praticamente foi precursora desse movimento, mostrando heróis com dilemas humanos e fraquezas. A DC não queria perder o bonde da história, mas ao mesmo tempo estava comprometida com a ala conservadora por causa dos negócios escusos de Harry Donnenfeld, um dos fundadores da DC. Ele transportava para a máfia americana bebidas, fumo e outros artigos nos caminhões que traziam do Canadá os papéis nos quais imprimia suas revistas.
Essa relação com a máfia vinha desde a lei seca, e mesmo quando interrompeu os carregamentos Donnenfeld ainda mantinha relações minimamente cordiais com os mafiosos, pois não queria cair na lista negra de Frank Costello, o principal chefão criminoso de então. Por esse motivo, Donnenfeld sempre fazia de tudo para manter seu negócio longe da vista negra da crítica moralista, para que sua ligação passada com a máfia não lhe rendesse problemas.
Para chegar num meio termo, a editora estabelece que não abriria mão de manter seus heróis como exemplos de superação e virtude, mas também não faria deles anti-heróis de caráter ambíguo, como o Justiceiro da Marvel. A nova fase da editora mostraria todo o idealismo sonhador da era de Ouro aliado à abordagens mais humanas de cada personagem. Arqueiro Verde, Gavião Negro, todos foram sendo pouco a pouco contagiados pelo clima do realismo. Mas o personagem DC mais afetado pela "marvelização" do mercado de quadrinhos seria o FLASH.
Um personagem com a capacidade de se mover mais rápido do que qualquer um na terra tendia a ter história forçadas e sem ameaças ou dramas reais. Para rivalizar com Barry e dar um conflito real para um velocista, a DC cria um inimigo com poderes idênticos, o Professor Zoom (ou Flash Reverso). Vendo o retorno positivo dos leitores, a cúpula editorial da DC decide ir mais longe: esse mesmo inimigo assassinaria a esposa do herói, coisa rara nos quadrinhos. Barry passa por um tempo de luto e após um tempo tenta reconstruir sua vida e fica noivo de Fiona Webb. Mas como ex-mulher e arquinimigo são pra vida toda, Zoom aparece no dia do casamento de Barry e Fiona para matar mais uma esposa do Flash.

Numa atitude impulsiva, Barry mata o Prof. Zoom ali mesmo e se torna o primeiro herói DC pós-Era de Prata a tirar a vida de um inimigo. A editora proibia heróis de matarem a sangue frio desde 1940, pois na época os jornais e meios de comunicação começaram a criticar as posturas assassinas de sucessos de venda como Batman e Superman. O chefão da DC Harry Donnenfeld, desde aquela época já estava interessado em manter sua editora longe dos olhos dos censores e jornalistas. Quanto menos motivo para cavarem, melhor. A regra heróica da DC "herói não mata" surgiu não por idealismo, mas por causa de um empresário com muito medo de ir para a cadeia.
Os editores da DC sabiam que mostrar um herói matando atrairia os fãs, mas ao mesmo tempo despertaria o ódio da polícia moral americana nos quadrinhos, o Comic Code Authority. Para fazer uma média com o órgão regulamentador das HQs sem mudar a história criada pelo roteirista Cary Bates, os editores resolvem levar Barry a julgamento popular para mostrar que tirar uma vida traz consequências graves, e assim apaziguar a ira dos velhinhos censores.
Nos meses em que o julgamento se arrastou, Barry inicia um caso quentíssimo com Zatanna não na sua revista mensal, mas nas páginas da revista da LJA. Por causa do pudor da época, a cena de sexo dos dois em pleno satélite foi publicada no melhor estilo "imaginem o resto", com a comida que Barry preparava para Zatanna queimando no fogão.

A Liga Satélite tinha bastante conteúdo adulto subentendido, para passar pelo crivo dos censores. A cena de amor entre Barry e Zatanna ocorreu apenas na mente dos leitores, apesar de todas as deixas e entrelinhas. A grande virtude de Brad Meltzer em sua mini-série Crise de Identidade é reproduzir o mesmo clima adulto da época da Liga Satélite, mas sem esconder nada ou subentender.
Pouco tempo depois Barry foi à julgamento popular pelo assassinato do Prof. Zoom, e a LJA foi pressionada pela população a realizarem uma votação entre os heróis para expulsarem Barry da LJA. A votação foi apertada, com vitória para a permanência de Barry, mas logo depois ele foi para o futuro e depois voltou ao presente apenas para salvar o mundo em Crise nas Infinitas Terras.
[Eléktron] A Primeira Lobotomia da LJA!

Em Justice League of America #14, a LJA vota a favor da admissão de um novo integrante, ELÉKTRON. Depois da votação, no entanto, nenhum deles consegue se lembrar de ter feito isso. O mistério aponta para um vilão, o SENHOR MEMÓRIA. Depois de muitos catiripapos trocados, a LJA descobre que o vilão era nada menos do que o BATMAN!

Todos ficaram chocados, mas a Ajax percebe que estão sendo filmados. Ele usa sua ajax-visão (acredite, é sério) para determinar onde estava a central que recebia as imagens, e descobre que o verdadeiro Senhor Memória era o professor Amos Fortune, antigo inimigo da LJA e mente criminosa brilhante, como todos os grandes vilões megalomaníacos da DC de então, como Luthor, Hammonds e Silvana.
Descobre-se então que o Morcego teve sua memória apagada pelo verdadeiro Senhor Memória. Depois de resolvido o caso, a memória de todos os componentes da Liga é restaurada, e Eléktron entra oficialmente para a equipe. Ou seja, Brad Meltzer fez uma boa pesquisa para fazer Crise de Identidade, mantendo Eléktron no meio de uma trama que novamente mexia com lobotomia, assim como na sua entrada na LJA.
[Canário Negro] Mãe Dinah, Filha Dinah e uma história mais complicada que a do Gavião Negro!
Em 1969 Denny O'Neill assumiu a revista da Liga, disposto a mostrar serviço em seu primeiro grande título. Em suas primeiras histórias ele decide mexer nas estruturas da equipe, dando mais atitude ao Arqueiro Verde e mantando o marido da Canário Negro, o detetive LARRY LANCE. Larry morre para proteger sua esposa DINAH da ameaça alienígena AQUARIUS. A Canário Negor, que morava na Terra-2 e participava da Sociedade da Justiça, decide começar vida nova na Terra-1, para esquecer a perda trágica do marido. É a primeira vez nos quadrinhos em que um personagem de uma terra paralela migra de vez para outra terra.
Superman a convida para compor a LJA, mas o sempre intransigente Gavião Negro argumenta que é um risco trazer mais um componente sem poderes de verdade (os outros eram Batman e Arqueiro). Começa um debate acalorado para decidir se ela entra para equipe ou não. Irritada, Canário dá um "piti", e solta um grito de raiva. Para surpresa dela e de todos, sua voz agora era uma rajada sônica poderosa, que derrubou todos os heróis presentes, até mesmo o Superman. No fim da história descobrimos que ela ganhou tais poderes ao ser exposta pela radiação alienígena gerada pelo vilão Aquarius.

O tempo passou, e chegamos ao ano de 1983. A Dinah Lance que participou da SJA em 1949 continuava jovem, após anos de combate. Os leitores da DC mandavam centenas de carta perguntando como a DC explicava a eterna juventude de Dinah, que teria nascido quase 20 anos antes de todos os componentes da Liga e parecia até mais nova que Superman e Batman.
A DC tenta resolver o problema cronológico com um retcon absurdo na origem da Canário. Em JLA #220 é revelado que Larry e Dinah Lance tiveram uma filha que recebeu a maldição do grito supersônico do antigo inimigo da SJA, o Mago. Os pais não davam conta dos faniquitos destrutivos da menina, e os estragos eram cada vez maiores. É quando TROVÃO, um gênio da quinta dimensão que era amigo do casal (e hoje está na caneta do Jakeem Trovoada na SJA), entra em cena e esconde a pimpolha num limbo, apagando todas as suas memórias.
Pelo retcon, a morte de Larry acontece de forma diferente. O casal Lance enfrenta agora o alien Aquarius (e não o Mago, como na versão original), e no fim da história Larry dá sua vida para salvar a esposa, assim como na versão original do Denny O'Neill. Uma outra mudança feita pelo retcon é que Dinah teria se ferido mortalmente, sem chances de sobrevivência. Lembrando da filha da Canário escondida no limbo anos antes, Trovão decide trocar a "Mãe Dinah" de lugar com a "Filha Dinah", deixando a Canário Negro original num estado de animação suspensa no limbo em que a filha passou toda sua vida. No processo, as duas trocam de memórias, e a filha de Dinah sai do limbo achando que é a própria mãe!


Depois de anos achando que era a "Mãe Dinah" ela descobre que é na verdade a "Filha Dinah", por conta do retcon de 1983. Uma saída digna de novela mexicana! Antes do retcon a Canário já havia se acostumado com a viuvez e estava aceitando as investidas do Arqueiro Verde. Após o retcon, nada mudou no relacionamento do casal, já que o Arqueiro sempre teria namorado com a Dinah-filha.

A origem retconeada e trubcada da Canário foi um dos motivos da Crise nas Infinitas Terras da DC. A origem atual dela é bem mais simples: sua mãe fez parte da SJA, ela é membro fundadora e atual líder da LJA, e honra o legado da mãe como membro reserva da SJA.
[DC versus MARVEL] Até na DC o Homem-Aranha só apanha!
A LJA é convocada pelo Vingador Fantasma para lutar contra entidades profanas que surgiram na cidade de Rutland (cidade real, no estado de Vermont). Félix Fausto é o vilão por trás das entidades, e entre os monstrengos fantasiados para o Halloween que infestavam a cidade, estavam vários heróis de outras editoras, inclusive um Homem-Aranha pra lá de obeso!
Nesse primeiro crossover "extra-oficial" entre Marvel e DC, o Aranha toma mil chapuletadas de Batman e Lanterna Verde, que vencem o confronto com facilidade. Uma alfinetada da DC na concorrente, que começava a ganhar terreno no mercado americano.

A luta contra as entidades continua, e toda a LJA é posta em coma induzido por Fausto. Porém o Vingador Fantasma surge e derrota o vilão, libertando a Liga do coma e restaurando a tranquilidade na cidade. Os justiceiros o convidam para a equipe, e sua resposta é enigmática, como condiz ao personagem. Sem dizer nem "sim" nem "não", ele apenas some nas sombras, e nas aparições seguintes do Vingador na revista da LJA ele se considera membro da Liga, e convoca a equipe de tempos em tempos para missões sobrenaturais. Um dos primeiros casos de integrante-esporádico em equipes.


[ZATANNA] O início das falas invertidas e do troca-troca de uniforme


Zatanna surgiu como mais uma recriação de Julius Schwarz de personagem da Era de Ouro na Era de Prata. Schwarz via que o mago Zatara era sempre comparado desfavoravelmente com o mago Mandrake, e decidiu investir num novo tipo de reinvenção: em vez de criar um novo personagem com outro alter ego (como fez com o Lanterna Verde e o Flash), ele faria o primeiro legado heróico direto da DC.
Zatara passara seu bastão heróico para sua filha, Zatanna, que herdaria uma versão feminina do uniforme do pai. A calça quadriculada do pai vira uma meia-arrastão sensualíssima nas pernas da filha, que estréia na revista HAWKMAN, e aos poucos vai aparecendo em várias revistas da DC, até chegar ao papel de pivô de um arco inteiro da revista da Liga. No fim da aventura, Zatanna não recebe um convite oficial para se unir à equipe. Porém o público simpatiza bastante com a maga que profere feitiços falando as palavras ao contrário. Vários leitores escrevem para a DC dizendo que adoravam o desafio de ler os feitiços de Zatanna ao contrário.
Meses depois Zatanna volta às histórias da LJA, agora para ficar. A equipe decide procurar um novo membro para aumentar seu poder, e entere os selecionáveis surge o nome de Zatanna, lembrada como aliada confiável. Ela é rapidamente eleita pelos heróis e convocada para assumir o posto, mas diz de forma agressiva que não quer nada da Liga. Para surpresa da LJA, ela aparece com uniforme novo e evocando encantos com frases na ordem normal. "Eu não preciso da Liga, nem do anel do Lanterna Verde!", diz a Bruxinha, enquanto põe fogo em tudo à sua volta!

Eléktron percebe que tudo o que ela diz significa justamente o contrário. Afinal, Zatanna é sinônimo de tudo invertido! Ou seja, o que ela queria dizer é que precisava da Liga e queria o anel de Hal Jordan pra si!
No correr da história, a Liga descobre que o Feiticeiro de Ys está dominando Zatanna para tomar o anel do Lanterna. Hal consegue vencer o Feiticeiro e salva Zatanna, que é novamente convidada para se juntar à Liga e dessa vez aceita o convite.

Até então os leitores não haviam entendido o porquê do novo visual de Zatanna (colante preto com decote circular entre os seios, rabo de cavalo e capa vermelha). Mas fica claro que é uma homenagem ao traje de sua mãe, Sindella. E é a busca de Zatanna por sua mãe que ocupará os prócimos arcos da LJA.
Na aventura seguinte, ela e seu pai Zatara partem em busca de Sindella, mãe de Zatanna. Ao contrário do que sempre pensavam, Sindella estava viva entre os Homo Magi, uma raça variante dos Homo Sapiens especializada em feitiçaria que vivia na Turquia. Zatara e Sindella eram descendentes dos Homo Magi, e com isso pode-se dizer que Zatanna é de origem turca.
Os Homo Magi se mantinham escondidos do mundo exterior, e Sindella havia simulado sua morte e voltado para a Turquia anos antes para evitar que os Homo Magi sequestrassem Zatanna e a obrigassem a viver uma vida de ocultimos dedicado ao mal. Quando pai e filha descobrem que Sindella está viva, vão com a LJA para a terra dos feiticeiros turcos tentar resgatá-la, mas magia sempre foi uma força que heróis como Superman e Batman não consegurem suplantar. Vendo que sua filha e os heróis poderiam morrer, Sindella se sacrifica e destrói seu próprio povo, os Homo Magi, permitindo que sua família e os heróis voltem para a América com vida.
Zatanna decide mudar de uniforme para esquecer a morte da mãe e começar vida nova. É quando surge o uniforme azul com botas de cano altíssimo que ela usaria na fase Conway/Pérez, e que marcaria toda uma geração de leitores.

Já dava como perdido o negócio, quando o nosso amigo MARCELO TRISTÃO mandou um e-mail para uma lista DC da qual participo procurando o autor para poder citar no seu blog. Depois que me identifiquei, o amigo me mandou a matéria todinha, que ele havia salvo antes dos resets. Ele vai postar alguns desses materiais no BLOG dele, então prestigiem a matéria deste que vos fala e o nosso amigo Tristão. O blog dele sobre a DC é dos melhores do Brasil.
Então vamos logo aos fatos sobre a principal equipe de heróis dos quadrinhos, a LIGA DA JUSTIÇA:

[Superman e Batman] "Na capa da revista não, que é pra não estragar o velório!"

Em 1959 Julius Schwartz lembrou-se do sucesso da SJA fazia 20 anos antes e pensou: "Se funcionou uma vez, vai funcionar de novo!". Propôs à DC a criação de uma revista que reunisse o principais heróis da editora. A aceitação do presidente foi imediata. Os problemas viriam com os editores dos dois grandes da DC, Superman (Mort Weisinger) e Batman (Jack Schiff).
Na negociação com Schwartz, os editores só liberariam seus personagens para a revista da Liga se os dois não aparecessem nas capas e tivessem participações pequenas nas histórias. Schiff e Weisinger tinham medo dos efeitos destrutivos da super-exposição dos personagens (coisa que os atuais editores esqueceram, infelizmente).
Um dia o presidente da DC foi perguntar para Julius Schwartz, editor da revista da Liga, porque cargas d'água os dois medalhões da editora não apareciam nas capas de JLA, e se isso não seria bom para aumentar as vendas. Ele contou o acordo que fez com os dois editores, e se assustou com a ira que foi consumindo o rosto do chefão. "Que palhaçada é essa? Eu sou o presidente da DC, não eles!". Depois do acesso de raiva, o presidente fez com que Superman e Batman figurassem nas capas pra ajudar nas vendas.
Resultado: as vendas quadruplicaram, e Julius Schwartz se consagrou como o criador da Era de Prata.
[Flash] O primeiro matador da Era de Prata (e o primeiro pegador também)

No fim dos anos 70, as editoras de quadrinhos americanas perceberam que o público original da Era de Prata crescera e queria materiais mais realistas e adultos. O McCarthismo já diminuíra, e formadores de opinião nos meios de comunicação estimulavam a discussão sobre drogas, sexo, divórcio e outros tabus da época.
A Marvel praticamente foi precursora desse movimento, mostrando heróis com dilemas humanos e fraquezas. A DC não queria perder o bonde da história, mas ao mesmo tempo estava comprometida com a ala conservadora por causa dos negócios escusos de Harry Donnenfeld, um dos fundadores da DC. Ele transportava para a máfia americana bebidas, fumo e outros artigos nos caminhões que traziam do Canadá os papéis nos quais imprimia suas revistas.
Essa relação com a máfia vinha desde a lei seca, e mesmo quando interrompeu os carregamentos Donnenfeld ainda mantinha relações minimamente cordiais com os mafiosos, pois não queria cair na lista negra de Frank Costello, o principal chefão criminoso de então. Por esse motivo, Donnenfeld sempre fazia de tudo para manter seu negócio longe da vista negra da crítica moralista, para que sua ligação passada com a máfia não lhe rendesse problemas.
Para chegar num meio termo, a editora estabelece que não abriria mão de manter seus heróis como exemplos de superação e virtude, mas também não faria deles anti-heróis de caráter ambíguo, como o Justiceiro da Marvel. A nova fase da editora mostraria todo o idealismo sonhador da era de Ouro aliado à abordagens mais humanas de cada personagem. Arqueiro Verde, Gavião Negro, todos foram sendo pouco a pouco contagiados pelo clima do realismo. Mas o personagem DC mais afetado pela "marvelização" do mercado de quadrinhos seria o FLASH.
Um personagem com a capacidade de se mover mais rápido do que qualquer um na terra tendia a ter história forçadas e sem ameaças ou dramas reais. Para rivalizar com Barry e dar um conflito real para um velocista, a DC cria um inimigo com poderes idênticos, o Professor Zoom (ou Flash Reverso). Vendo o retorno positivo dos leitores, a cúpula editorial da DC decide ir mais longe: esse mesmo inimigo assassinaria a esposa do herói, coisa rara nos quadrinhos. Barry passa por um tempo de luto e após um tempo tenta reconstruir sua vida e fica noivo de Fiona Webb. Mas como ex-mulher e arquinimigo são pra vida toda, Zoom aparece no dia do casamento de Barry e Fiona para matar mais uma esposa do Flash.

Numa atitude impulsiva, Barry mata o Prof. Zoom ali mesmo e se torna o primeiro herói DC pós-Era de Prata a tirar a vida de um inimigo. A editora proibia heróis de matarem a sangue frio desde 1940, pois na época os jornais e meios de comunicação começaram a criticar as posturas assassinas de sucessos de venda como Batman e Superman. O chefão da DC Harry Donnenfeld, desde aquela época já estava interessado em manter sua editora longe dos olhos dos censores e jornalistas. Quanto menos motivo para cavarem, melhor. A regra heróica da DC "herói não mata" surgiu não por idealismo, mas por causa de um empresário com muito medo de ir para a cadeia.
Os editores da DC sabiam que mostrar um herói matando atrairia os fãs, mas ao mesmo tempo despertaria o ódio da polícia moral americana nos quadrinhos, o Comic Code Authority. Para fazer uma média com o órgão regulamentador das HQs sem mudar a história criada pelo roteirista Cary Bates, os editores resolvem levar Barry a julgamento popular para mostrar que tirar uma vida traz consequências graves, e assim apaziguar a ira dos velhinhos censores.
Nos meses em que o julgamento se arrastou, Barry inicia um caso quentíssimo com Zatanna não na sua revista mensal, mas nas páginas da revista da LJA. Por causa do pudor da época, a cena de sexo dos dois em pleno satélite foi publicada no melhor estilo "imaginem o resto", com a comida que Barry preparava para Zatanna queimando no fogão.

A Liga Satélite tinha bastante conteúdo adulto subentendido, para passar pelo crivo dos censores. A cena de amor entre Barry e Zatanna ocorreu apenas na mente dos leitores, apesar de todas as deixas e entrelinhas. A grande virtude de Brad Meltzer em sua mini-série Crise de Identidade é reproduzir o mesmo clima adulto da época da Liga Satélite, mas sem esconder nada ou subentender.
Pouco tempo depois Barry foi à julgamento popular pelo assassinato do Prof. Zoom, e a LJA foi pressionada pela população a realizarem uma votação entre os heróis para expulsarem Barry da LJA. A votação foi apertada, com vitória para a permanência de Barry, mas logo depois ele foi para o futuro e depois voltou ao presente apenas para salvar o mundo em Crise nas Infinitas Terras.
[Eléktron] A Primeira Lobotomia da LJA!

Em Justice League of America #14, a LJA vota a favor da admissão de um novo integrante, ELÉKTRON. Depois da votação, no entanto, nenhum deles consegue se lembrar de ter feito isso. O mistério aponta para um vilão, o SENHOR MEMÓRIA. Depois de muitos catiripapos trocados, a LJA descobre que o vilão era nada menos do que o BATMAN!

Todos ficaram chocados, mas a Ajax percebe que estão sendo filmados. Ele usa sua ajax-visão (acredite, é sério) para determinar onde estava a central que recebia as imagens, e descobre que o verdadeiro Senhor Memória era o professor Amos Fortune, antigo inimigo da LJA e mente criminosa brilhante, como todos os grandes vilões megalomaníacos da DC de então, como Luthor, Hammonds e Silvana.
Descobre-se então que o Morcego teve sua memória apagada pelo verdadeiro Senhor Memória. Depois de resolvido o caso, a memória de todos os componentes da Liga é restaurada, e Eléktron entra oficialmente para a equipe. Ou seja, Brad Meltzer fez uma boa pesquisa para fazer Crise de Identidade, mantendo Eléktron no meio de uma trama que novamente mexia com lobotomia, assim como na sua entrada na LJA.
[Canário Negro] Mãe Dinah, Filha Dinah e uma história mais complicada que a do Gavião Negro!
Em 1969 Denny O'Neill assumiu a revista da Liga, disposto a mostrar serviço em seu primeiro grande título. Em suas primeiras histórias ele decide mexer nas estruturas da equipe, dando mais atitude ao Arqueiro Verde e mantando o marido da Canário Negro, o detetive LARRY LANCE. Larry morre para proteger sua esposa DINAH da ameaça alienígena AQUARIUS. A Canário Negor, que morava na Terra-2 e participava da Sociedade da Justiça, decide começar vida nova na Terra-1, para esquecer a perda trágica do marido. É a primeira vez nos quadrinhos em que um personagem de uma terra paralela migra de vez para outra terra.
Superman a convida para compor a LJA, mas o sempre intransigente Gavião Negro argumenta que é um risco trazer mais um componente sem poderes de verdade (os outros eram Batman e Arqueiro). Começa um debate acalorado para decidir se ela entra para equipe ou não. Irritada, Canário dá um "piti", e solta um grito de raiva. Para surpresa dela e de todos, sua voz agora era uma rajada sônica poderosa, que derrubou todos os heróis presentes, até mesmo o Superman. No fim da história descobrimos que ela ganhou tais poderes ao ser exposta pela radiação alienígena gerada pelo vilão Aquarius.

O tempo passou, e chegamos ao ano de 1983. A Dinah Lance que participou da SJA em 1949 continuava jovem, após anos de combate. Os leitores da DC mandavam centenas de carta perguntando como a DC explicava a eterna juventude de Dinah, que teria nascido quase 20 anos antes de todos os componentes da Liga e parecia até mais nova que Superman e Batman.
A DC tenta resolver o problema cronológico com um retcon absurdo na origem da Canário. Em JLA #220 é revelado que Larry e Dinah Lance tiveram uma filha que recebeu a maldição do grito supersônico do antigo inimigo da SJA, o Mago. Os pais não davam conta dos faniquitos destrutivos da menina, e os estragos eram cada vez maiores. É quando TROVÃO, um gênio da quinta dimensão que era amigo do casal (e hoje está na caneta do Jakeem Trovoada na SJA), entra em cena e esconde a pimpolha num limbo, apagando todas as suas memórias.
Pelo retcon, a morte de Larry acontece de forma diferente. O casal Lance enfrenta agora o alien Aquarius (e não o Mago, como na versão original), e no fim da história Larry dá sua vida para salvar a esposa, assim como na versão original do Denny O'Neill. Uma outra mudança feita pelo retcon é que Dinah teria se ferido mortalmente, sem chances de sobrevivência. Lembrando da filha da Canário escondida no limbo anos antes, Trovão decide trocar a "Mãe Dinah" de lugar com a "Filha Dinah", deixando a Canário Negro original num estado de animação suspensa no limbo em que a filha passou toda sua vida. No processo, as duas trocam de memórias, e a filha de Dinah sai do limbo achando que é a própria mãe!


Depois de anos achando que era a "Mãe Dinah" ela descobre que é na verdade a "Filha Dinah", por conta do retcon de 1983. Uma saída digna de novela mexicana! Antes do retcon a Canário já havia se acostumado com a viuvez e estava aceitando as investidas do Arqueiro Verde. Após o retcon, nada mudou no relacionamento do casal, já que o Arqueiro sempre teria namorado com a Dinah-filha.

A origem retconeada e trubcada da Canário foi um dos motivos da Crise nas Infinitas Terras da DC. A origem atual dela é bem mais simples: sua mãe fez parte da SJA, ela é membro fundadora e atual líder da LJA, e honra o legado da mãe como membro reserva da SJA.
[DC versus MARVEL] Até na DC o Homem-Aranha só apanha!
A LJA é convocada pelo Vingador Fantasma para lutar contra entidades profanas que surgiram na cidade de Rutland (cidade real, no estado de Vermont). Félix Fausto é o vilão por trás das entidades, e entre os monstrengos fantasiados para o Halloween que infestavam a cidade, estavam vários heróis de outras editoras, inclusive um Homem-Aranha pra lá de obeso!
Nesse primeiro crossover "extra-oficial" entre Marvel e DC, o Aranha toma mil chapuletadas de Batman e Lanterna Verde, que vencem o confronto com facilidade. Uma alfinetada da DC na concorrente, que começava a ganhar terreno no mercado americano.

A luta contra as entidades continua, e toda a LJA é posta em coma induzido por Fausto. Porém o Vingador Fantasma surge e derrota o vilão, libertando a Liga do coma e restaurando a tranquilidade na cidade. Os justiceiros o convidam para a equipe, e sua resposta é enigmática, como condiz ao personagem. Sem dizer nem "sim" nem "não", ele apenas some nas sombras, e nas aparições seguintes do Vingador na revista da LJA ele se considera membro da Liga, e convoca a equipe de tempos em tempos para missões sobrenaturais. Um dos primeiros casos de integrante-esporádico em equipes.


[ZATANNA] O início das falas invertidas e do troca-troca de uniforme


Zatanna surgiu como mais uma recriação de Julius Schwarz de personagem da Era de Ouro na Era de Prata. Schwarz via que o mago Zatara era sempre comparado desfavoravelmente com o mago Mandrake, e decidiu investir num novo tipo de reinvenção: em vez de criar um novo personagem com outro alter ego (como fez com o Lanterna Verde e o Flash), ele faria o primeiro legado heróico direto da DC.
Zatara passara seu bastão heróico para sua filha, Zatanna, que herdaria uma versão feminina do uniforme do pai. A calça quadriculada do pai vira uma meia-arrastão sensualíssima nas pernas da filha, que estréia na revista HAWKMAN, e aos poucos vai aparecendo em várias revistas da DC, até chegar ao papel de pivô de um arco inteiro da revista da Liga. No fim da aventura, Zatanna não recebe um convite oficial para se unir à equipe. Porém o público simpatiza bastante com a maga que profere feitiços falando as palavras ao contrário. Vários leitores escrevem para a DC dizendo que adoravam o desafio de ler os feitiços de Zatanna ao contrário.
Meses depois Zatanna volta às histórias da LJA, agora para ficar. A equipe decide procurar um novo membro para aumentar seu poder, e entere os selecionáveis surge o nome de Zatanna, lembrada como aliada confiável. Ela é rapidamente eleita pelos heróis e convocada para assumir o posto, mas diz de forma agressiva que não quer nada da Liga. Para surpresa da LJA, ela aparece com uniforme novo e evocando encantos com frases na ordem normal. "Eu não preciso da Liga, nem do anel do Lanterna Verde!", diz a Bruxinha, enquanto põe fogo em tudo à sua volta!

Eléktron percebe que tudo o que ela diz significa justamente o contrário. Afinal, Zatanna é sinônimo de tudo invertido! Ou seja, o que ela queria dizer é que precisava da Liga e queria o anel de Hal Jordan pra si!
No correr da história, a Liga descobre que o Feiticeiro de Ys está dominando Zatanna para tomar o anel do Lanterna. Hal consegue vencer o Feiticeiro e salva Zatanna, que é novamente convidada para se juntar à Liga e dessa vez aceita o convite.

Até então os leitores não haviam entendido o porquê do novo visual de Zatanna (colante preto com decote circular entre os seios, rabo de cavalo e capa vermelha). Mas fica claro que é uma homenagem ao traje de sua mãe, Sindella. E é a busca de Zatanna por sua mãe que ocupará os prócimos arcos da LJA.
Na aventura seguinte, ela e seu pai Zatara partem em busca de Sindella, mãe de Zatanna. Ao contrário do que sempre pensavam, Sindella estava viva entre os Homo Magi, uma raça variante dos Homo Sapiens especializada em feitiçaria que vivia na Turquia. Zatara e Sindella eram descendentes dos Homo Magi, e com isso pode-se dizer que Zatanna é de origem turca.
Os Homo Magi se mantinham escondidos do mundo exterior, e Sindella havia simulado sua morte e voltado para a Turquia anos antes para evitar que os Homo Magi sequestrassem Zatanna e a obrigassem a viver uma vida de ocultimos dedicado ao mal. Quando pai e filha descobrem que Sindella está viva, vão com a LJA para a terra dos feiticeiros turcos tentar resgatá-la, mas magia sempre foi uma força que heróis como Superman e Batman não consegurem suplantar. Vendo que sua filha e os heróis poderiam morrer, Sindella se sacrifica e destrói seu próprio povo, os Homo Magi, permitindo que sua família e os heróis voltem para a América com vida.
Zatanna decide mudar de uniforme para esquecer a morte da mãe e começar vida nova. É quando surge o uniforme azul com botas de cano altíssimo que ela usaria na fase Conway/Pérez, e que marcaria toda uma geração de leitores.

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